2019, Tese de doutorado
A tese aqui apresentada se dedica à formulação do conceito de historiografia de artista, elaboração teórica que responde a determinadas práticas do teatro contemporâneo, considerando espetáculos criados nos primeiros anos do século XXI, que articulam produção de saber histórico e experiência estética na realização de uma crítica historiográfica encenada. A historiografia de artista é pensada como um desdobramento do teatro documentário, gênero criado na década de 1920 por Erwin Piscator, que passou por transformações significativas ao longo do último século, mas que nesta tese não é tomado como uma forma de regras rígidas e sim como categoria expandida. O teatro documentário contemporâneo é analisado aqui principalmente a partir dos estudos de Ileana Dieguez, Carol Martin, Janelle Reinelt e Diana Taylor, mas também em diálogo com a teoria dos afetos, especialmente os estudos de afeto público de Teresa Brennan e Sara Ahmed. A historiografia de artista, assim como o teatro documentário, pode ser considerada uma prática corporalizada da história pública, história feita com o público e pelo público, em regime de autoridade compartilhada. Essa prática artística também pode ser aproximada dos estudos de descolonização do pensamento, considerando questões discutidas por Silvia Rivera Cusicanqui, María Lugones, Zulma Palermo, Boaventura de Sousa Santos, Aníbal Quijano e Walter Mignolo, bem como pode ter uma proximidade com a pedagogia das encruzilhadas, como apresentada por Luiz Antonio Simas e Luiz Rufino. O conceito de historiografia de artista é colocado à prova na análise de espetáculos de diferentes países como Brasil (em peças criadas no Rio de Janeiro, em São Paulo, Salvador e Natal), Argentina, Portugal, Espanha e Líbano, especialmente nas experimentações com o formato da palestra-performance. Faz parte da pesquisa a criação do espetáculo Há mais futuro que passado – um documentário de ficção, dirigido em 2017 pela autora da tese.