Etnografica
CRISTIANA BASTOS -Professor Gilberto Velho, queremos pedir-lhe que situe uma obra sua que marcou muitos leitores, inclusivamente em Portugal: A Utopia Urbana. Pode dar-nos alguns elementos sobre o contexto carioca dessa pesquisa e sobre a sua aventura de o estudar enquanto jovem antropólogo? GILBERTO VELHO -A Utopia Urbana decorreu de uma pesquisa realizada entre 1968 e 1970, no âmbito de uma tese de mestrado defendida no final de 1970 e publicada em 1973, após uma estada de um ano nos EUA. Copacabana era um bairro que representava um conjunto de valores que hoje em dia podemos chamar de individualistas modernizantes, e que, na época, estavam muito centrados numa questão de mobilidade socioespacial dentro da cidade, que servia para• demarcar fronteiras e para construir identidades. O que poderia parecer uma simples mudança de residência para Copacabana, na realidade fazia parte de uma visão de mundo complexa, que expressava um ethos, um modo de perceber e definir a realidade. Por uma série de razões, Copacabana reunia no Gilberto Velho, professor do Programa de Pós--Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, autor de uma vasta obra que se projectou a partir da publicação, em 1973, de A Utopia Urbana, e sem dúvida um dos mais relevantes teóricos contemporâneos em língua portuguesa, esteve em Lisboa, em Novembro de 1996. A sua visita foi promovida pelo ISCTE, no âmbito do mestrado em Antropologia: Patrimónios e Identidades, coordenado por Joaquim Pais de Brito. As actividades do Prof. Gilberto Velho repartiram-se, durante cerca de três semanas, entre conferências no ISCTE e no Museu Nacional de Etnologia, docência e acompanhamento de investigações de mestrandos e um seminário sobre antropologia urbana, em colaboração com o CEAS. Pelo interesse despertado entre colegas e alunos, esta visita constituiu um passo significativo na consolidação de um intercâmbio entre as comunidades académicas portuguesa e brasileira, mutuamente enriquecedor e estimulante. Aproveitámos a ocasião para registar uma troca de impressões com o Prof. Gilberto Velho, que agora apresentamos aos leitores da Etnográfica.